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No Dia do Artista de Teatro, celebramos esses profissionais que nos ensinam a fazer da vida a nossa própria obra de arte.

Por Cecília Villar

O que acontece quando você entra em contato com uma expressão artística que parece feita especialmente para você?

Uma peça na qual a personagem diz o que você gostaria de ter dito. Uma dança que te traz a sensação que você tanto buscava. Uma música que organiza um sentimento até então bagunçado.

Você ri? Chora? Tem absoluta certeza de que aquele artista sabia que você precisava ver e ouvir aquilo?

É possível que você sinta tudo isso e muito mais. A experiência central da arte é mística e a única certeza que temos é que ela nos transforma. Mas não fazemos isso sozinhos: é a partir do empurrão de um artista que a transformação acontece.

Mas quem, de fato, é o artista?

O artista é aquele que sente e vê tudo, que se investiga e não se esconde de si mesmo. Quando fazendo arte, o artista é ele e mais todos os outros que estiveram em seu lugar antes, num ato de aprimoramento, resistência e reverência histórica.

E as histórias são muitas.

A jovem participante do Programa Guritiba que assistiu a uma peça de teatro pela primeira vez e, ao final, disse que até aquele momento não sabia que podia ser outras coisas na vida, passou a carregar dentro de si a coragem de todos os artistas ali presentes, os quais, por sua vez, carregam em si o ímpeto de Dulcina de Moraes, importante atriz brasileira no século XX, responsável pela extinção da infame carteira de segurança pública expedida pela polícia e de porte obrigatório para prostitutas, marginais e…atores.

Já Ian Lisboa, que assistiu a uma apresentação de rap do Emicida quando tinha apenas 11 anos e, a partir disso, ficou impactado com a possibilidade de transformar palavras em arte, se consagrou anos depois como o premiado rapper Bl4ck. Aqui, a continuidade artística se repete: Ian carrega Emicida como inspiração que carrega Abdias do Nascimento, um poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico e ativista brasileiro, responsável pela fundação do Teatro Experimental do Negro – o primeiro a promover o protagonismo negro da dramaturgia e nos palcos.

E a espectadora do Mish Mash que, quando terminou o espetáculo, contou para o Palhaço Alípio que aquela tinha sido a primeira vez que ela riu depois do falecimento de seu pai? Talvez ela não saiba, mas Rafael Barreiros, o artista por trás do Palhaço Alípio, traz em si a arte da espanhola Marta Carbayo, uma das palhaças mais elogiadas do mundo e que defendia a ideia de que os espetáculos precisam ser versáteis para acontecerem em qualquer lugar – no tablado ou na rua -, tirando uma risada de qualquer coisa.

Ainda, impossível não trazer à tona os artistas que deixaram os palcos antes do fim do espetáculo, vítimas da pandemia de Covid-19. Os nomes – infelizmente – são muitos, assim como seus legados. Cada um que se despediu, aqui deixou memórias de riso, choro e silêncios ensurdecedores. Todos nós, enquanto espectadores, somos heranças desses artistas – e isso tempo nenhum apaga.

Tudo isso para dizer que a história da arte é a própria história da transformação humana. Essa transformação só acontece porque existe um artista. Presente e atento. Pronto para te dar um empurrão e te deixar cara a cara com a obra de arte mais importante de todos os tempos: a sua vida.

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